Saudade do Meu Norte
(Samba-canção de Augusto Calheiros e Arthur Goulart)
O Seresteiro de Garanhuns
O alagoano Augusto Calheiros nasceu em Murici, na Rua do Cajueiro, no dia 5 de junho de 1891. Chegou em Garanhuns ainda rapaz, por volta de 1912 e de pronto apaixonou-se pela cidade, e sua garoa penetrada pela luz do luar, numa época em que serenatas era uma das melhores diversões. Unindo-se a outros tantos famosos desta terra, tal qual o sargento Matoso, Júlio Lucena, Luiz Patrão, Odilon Lopes de Lima, Ernesto Brasil e Luís Correia Brasil para percorrer as ruas nas fases do crescente ao minguante da lua, sendo seguidos por admiradores.
Rapaz humilde, sem muita cultura, começou sua vida em Garanhuns como sapateiro e amante das melodias da saudade, formando um círculo de amizade que compensou a solidão de qualquer pessoa, fora do seu torrão natal, sem parentes ao seu lado. Conforme o pensamento do advogado José Francisco de Souza, que ainda menino o acompanhava nas noites de serestas, a nossa "Patativa", era do tipo "arrumadinho" que primava pela elegância tanto de suas vestes como de sua voz, despertando a paixão da "senhorinha" Esther, prima de Luís Correia Brasil, com quem veio casar-se anos mais tarde. De dia trabalhando com a sola de sapatos alheios e de noite reunido com grupos nas esquinas ou em meio às ruas em frente às residências das beldades do tempo. Calheiros com sua simplicidade, através do amigo e também seresteiro tocador de violão, Luís Correia Brasil, galgou uma profissão melhor, quando lhe foi oferecido um cargo como carcereiro da cadeia pública, o que lhe dava mais tempo para dedicar-se à música e à vida boêmia que tanto lhe fascinavam. A este respeito, o comerciante garanhuense por Manoel Gouveia afirmou que Calheiros não nasceu para outra coisa, senão para cantar e deixar à vontade seu espírito de homem da noite e da boêmia, transmudar-se na poesia das melodias que cantava e identificava-se, como por exemplo, diante das paixões contidas nas letras de Catulo da Paixão Cearense, Cesar Cruz, Jararaca, João de Barros e a sina de "Mané Fogueteiro" entre tantos outros, que encontravam em Calheiros a perfeição de letra, música e voz em harmonia.
O DESEJO DO REGRESSSO
Mesmo afastado da terra adotada como mãe, Augusto Calheiros permaneceu com o sentimento arraigado de saudade e o desejo de um dia regressar e permanecer em Garanhuns, e embora as madrugadas não fossem as mesmas, queria retornar ao tempo em que ficava nas esquinas saboreando canções como "Vertigem", composta pelo homem político, literato e músico nas horas de lazer, Luís Correia Brasil.
Porém este sonho realizou-se somente depois de falecido, quando Washington Medeiros, concretizou seu desejo confesso a Frederico Moraes Júnior antes de morrer, afirmando que mesmo distante morreria pensando em Garanhuns, promovendo um movimento para trasladar seus restos mortais para Garanhuns, onde descansa no Cemitério São Miguel. Mas, se Calheiros em sua composição, com parceria de Artur Goulart, dava adeus ao meu "norte querido" em "Saudade do Meu Norte", despedindo-se de "Garanhuns hospitaleira / Terra onde eu vivi / Adeus cidade nortista / Garanhuns e Boa Vista / Foi aonde me criei"... Não seu quando voltarei". Na realidade voltou aos 16 de agosto de 1958 e continuou, como que alcançar a esperança contida nos últimos versos da canção:
"Ainda espero
quem espera sempre alcança
Tenho muita esperança
ao meu Garanhuns voltar
quando me lembro do sertão daquela terra
Lá do alto do Magano
Tenho vontade de chorar".
Esta vontade ele não mais sentirá, vez que encontra-se na terra mãe.
Calheiros, apesar da solidariedade recebida, veio a falecer em 11 de janeiro de 1956, no Rio de Janeiro, vítima de falência múltipla dos órgãos, motivado por diabetes.
Independente da origem, com nove anos morava em Maceió e perdeu o pai, o que levou a família a enfrentar dificuldades.
Saudade do Meu Norte, samba-canção de Augusto Calheiros e Arthur Goulart com Augusto Calheiros acompanhado por Orquestra em disco Todamérica TA-5279 B (matriz TA-404), foi gravado em 22.01.1953 e lançado em fevereiro de 1953.
Resgatando e Preservando nossa Memória
Fonte: Jornal O Monitor de Garanhuns
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